
Curiosidades
TROQUE AS LETRAS DE SEU NOME POR HIERÓGLIFOS:
Escrita misteriosa
A EGIPTÓLOGA GAÚCHA MARGARET BAKOS LANÇA HOJE NA FEIRA LIVRO SOBRE OS HIEROGLIFOS DO ANTIGO EGITO
Quem quiser aprender a escrever o próprio nome em hieroglifos terá chance hoje, na oficina ministrada pela professora de História da PUCRS Margaret Bakos, no Santander Cultural, às 17h, na Praça da Alfândega.
Mas só dá para aprender, no máximo, o próprio nome e uma saudação comum no Egito Antigo. Os hieroglifos são bem mais complexos que um alfabeto como o ocidental, por isso não seria certo traduzir, simplesmente, uma palavra qualquer para esta escrita. Margaret é especialista em Egiptologia e demonstra seu encantamento pelos hieroglifos, a escrita mais bela, em sua opinião, por ser toda inspirada nos objetos da natureza. Um abutre, por exemplo, corresponderia ao som “ah” – os hieroglifos podem ter sinais com um, dois ou três sons. E mais não se pode ler, mas sim interpretar. Diz a historiadora que essa é a escrita mais antiga do Egito, a passagem entre o pictográfico e o fonético. Está presente nos sarcófagos, papiros e pedras. Era a linguagem dos nobres, dos sacerdotes, da elite egípcia. Além da oficina, a professora Margaret autografa seu livro O que São Hieroglifos (Brasiliense) hoje às 19h30min, na Praça de Autógrafos.
Zero Hora – Por que é tão difícil ler hieroglifos?
Margaret Bakos – São mais de 6 mil sinais de uma escrita que surgiu por volta do ano 2.700 a.C. São símbolos, sinais, fonéticas diferentes que foram ficando ainda mais difíceis ao longo dos anos: a criptalização da escrita. Então, é praticamente impossível memorizar isso tudo. Qualquer texto está sempre sujeito a muita discussão. Nós não lemos, mas sim interpretamos.
ZH – Que paralelos poderíamos fazer entre os hieroglifos e os textos da cultura ocidental?
Margaret – É uma linguagem antiga, mas ao mesmo tempo atual. Vivemos entre sinais, o semáforo, logotipos, ícones e os emoticons da internet. Não podemos compará-la com o alfabeto, mas sim fazer relações.
ZH – E a Pedra de Roseta?
Margaret – Foi a partir dela que passamos a entender os hieroglifos. O nome de Cleópatra só foi decifrado quando os hieroglifos foram comparados aos da Pedra de Roseta.
ZH – Esta é a escrita mais antiga da história?
Margaret – Não. Existe uma mais antiga, da Mesopotâmia. A escrita hieroglifica é a mais antiga do Egito. Depois dela vieram outras três: a hierático, dos sacerdotes, demótico, do povo, e cóptico, que seriam os primeiros cristãos egípcios.
Hieróglifo é um termo que junta duas palavras gregas: ἱερός (hierós) “sagrado”, e γλύφειν (glýphein) “escrita”. Apenas os sacerdotes, membros da realeza, altos cargos, e escribas conheciam a arte de ler e escrever esses sinais “sagrados”.
A escrita hieroglífica constitui provavelmente o mais antigo sistema organizado de escrita no mundo, e era vocacionada principalmente para inscrições formais nas paredes de templos e túmulos. Com o tempo evoluiu para formas mais simplificadas, como o hierático, uma variante mais cursiva que se podia pintar em papiros ou placas de barro, e ainda mais tarde, com a influência grega crescente no Oriente Próximo, a escrita evoluiu para o demótico, fase em que os hieróglifos iniciais ficaram bastante estilizados, havendo mesmo a inclusão de alguns sinais gregos na escrita.
O linguista francês Jean-François Champollion, que dominava os mais variados idiomas, foi o responsável, em 1822, pela decifração dos hieróglifos egípcios, estudando o enigma estampado numa peça de basalto, a famosa Pedra de Roseta, que continha três versões de um mesmo texto, sendo que uma delas era em grego, língua que conhecia. A partir desse feito, os especialistas compreenderam a complexa estrutura da escrita egípcia.
Aqui estão os 26 hieróglifos do chamado “alfabeto” egípcio, dispostos na ordem convencionada pelos linguistas. São estes os sinais hieroglíficos que mantiveram o seu valor fonético praticamente inalterado durante mais de 3000 anos, desde os tempos pré-dinásticos até ao século 5 d.C.